Por: CHICO VELLOZO
27/10/2024
08:02:40
APENAS UM DESABAFO
Ter uma boa formação educacional torna a pessoa mais sensível ao que é
verdadeiramente belo. A falta de conhecimento ou mesmo o preconceito impede a entrada no universo da cultura. Dou um exemplo: a maioria das pessoas não gosta de música clássica, mas nunca se deram a chance de conhecer um pouco sobre o assunto. Não sabem enumerar pelo menos 3 compositores desse estilo de música. Engessadas pelo que é imposto, o normal é que o entendimento das coisas seja banalizado. É importante salientar que a capacidade crítica, logicamente pautada em conhecimento, é o grau mais elevado da inteligência humana. É através dessa capacidade que podemos tomar as melhores decisões.
Logicamente, não me julgo a pessoa mais culta do mundo, muito menos mais inteligente. Apenas sou sensível ao que é belo, tocante, comovente e, principalmente, construtivo. Talvez tenha vivido um dos períodos mais intensos das artes e da cultura. Presenciei a revolução de costumes e convivi com uma profusão de obras primas, a começar pelos Beatles, uma das minhas primeiras lembranças. Acompanhei várias transições na música nacional e presenciei o surgimento de uma geração de artistas que criaram verdadeiramente obras eruditas. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Rita Lee...faziam parte do meu dia a dia através do rádio, da TV e dos discos. Depois dessa geração veio outra sequência de nomes inesquecíveis como Gonzaguinha, Belchior...e muitas bandas como Titãs, Paralamas do Sucesso e a “nonsense” Blitz, entre tantas outras. Bons tempos!
Foi através da literatura que me deparei com um mundo de personagens e acontecimentos grandiosos. Seja tratando da ficção ou da vida real, os livros são instrumentos de inclusão. Foi lendo boas publicações que comecei a me sentir parte do mundo. Muitos livros marcaram minha vida. Por incrível que pareça um dos primeiros que realmente me interessei foi “Eram os Deuses Astronautas” de Erich von Däniken. Logicamente não era a leitura mais indicada para os meus 10 anos de idade, mas foi marcante na minha existência. Monteiro Lobato, Jorge Amado, Rubem Fonseca, Zuenir Ventura, João Ubaldo Ribeiro foram muito recorrentes em minha biblioteca.
A minha ida ao Louvre foi inesquecível. Tive contato com obras impressionantes e presenciei o que é verdadeiramente belo. Depois dessa experiência tive o real entendimento do que é estética. Fui alçado a um nível superior de expectador, fiquei mais municiado de parâmetros para avaliar o que é significativo para mim no quesito obra de arte. Adorei o Louvre, mas foi em uma exposição no Museu da Chácara do Céu no bairro de Santa Teresa(RJ) que me rendi aos encantos de Anita Malfalti, Candido Portinari e Tarsila do Amaral. Suas obras foram mais significativas para mim do que às de Michelangelo e Leonardo Da Vinci. É obvio que, em todos os âmbitos, deixei de citar nomes importantes. Minha lista de preferências foi elaborada através de um critério muito simples: fui lembrando enquanto escrevia. Ou seja, segui meu coração!
Este texto é apenas um desabafo. Atuei durante muitos anos no magistério e convivi com o total despreparo do sistema de ensino para formar bons cidadãos. Faço questão de registrar uma exceção à regra: o Centro Educacional de Niterói. Nessa instituição, dita “escola experimental, me deparei com um ambiente de felicidade e estímulo a
criatividade. Foram momento em que me senti parte de um processo de transformação. A pedagogia Freinet, que se baseava no trabalho. permitiu-me sonhar com dias melhores, No mais, apesar de ter estudado numa excelente escola, não observei em nenhuma outra instituição a preocupação com a formação do bom cidadão. Na verdade, o que presenciei como estudante e durante o tempo que atuei no magistério foi a formação de ouvintes totalmente despreparados para enfrentar a realidade da vida fora do ambiente acadêmico. Acho que já passou da hora de revermos muitos conceitos!