Por: CHICO VELLOZO
10/10/2024
09:04:32
A APATIA É PÉSSIMA
Extremamente ativo, inteligente e carismático, um grande
amigo meu foi recentemente diagnosticado com um grau moderado de demência
vascular, um tipo de alteração nociva que surge em
várias áreas do cérebro. Este tipo de demência é irreversível, no entanto
é possível ser tratada a fim de se provocar um atraso em sua degenerativa progressão,
Infelizmente, por uma série de motivos, os
sintomas iniciais apresentados não foram encarados com a devida seriedade e as
manifestações da doença foram sendo “empurradas com a barriga”, resultando em
uma diagnose tardia.
Por algum tempo, uma falta de interesse pela
vida foi surgindo e ele afirmava que não tinha vontade de se envolver com nada.
Segundo meu amigo, isso se devia a uma vida muito atribulada antes da
aposentadoria. Passava muito tempo na cama dormindo ou assistindo televisão e
se distanciava cada vez mais de uma rotina de vida produtiva. Quando se
envolvia em uma conversa, não emitia nenhuma opinião e apresentava um profundo
desinteresse por tudo. Tomar alguma decisão, nem pensar!
Tudo foi acontecendo lentamente, mas com a
morte da sua companheira uma intensa depressão foi rapidamente instaurada em
sua vida. Não fazia questão de ficar perto de ninguém e a única companhia
constante era a de sua cachorrinha de estimação.
Na relação com seu filho extremamente mimado e totalmente
despreparado para a vida, existe uma total dependência financeira, pois, apesar
dos 50 anos de idade, ele ainda vive às custas do pai. O interessante é que os
atributos paternos provocavam um ciúme doentio no filho que, em todas as
oportunidades, queria mostrar que era melhor.
Essa competição gerada pelo filho, causava
muito desgosto em meu amigo. Ele, para não se aborrecer, aceitava ser tratado
como se fosse incompetente e verdadeiramente incapaz. Eu comentava sobre a
situação, mas meu amigo deixava rolar. Quando estávamos juntos, eu fazia
questão de comentar sobre seus atributos, enaltecendo sua beleza, inteligência,
competência e carisma, mas seu filho ficava bastante incomodado com os meus
sinceros elogios.
Com o decorrer do tempo uma apatia foi se
instaurando na vida do meu amigo e sua vida foi ficando cada vez mais sem
sentido. Sinceramente não sei o que o futuro reserva para ele, principalmente porque
sua vida está sendo administrada por seu filho que, apesar de tentar “mostrar
serviço”, não reúne condições ideais para assumir a importante missão de
proporcionar uma velhice digna ao seu pai.
Este desabafo acontece no sentido de alertar as pessoas sobre a uma série de intercorrências que podem levar a um quadro de apatia que, com certeza, provoca uma série de desdobramentos extremamente indesejáveis em qualquer época da nossa existência, ainda mais quando se é idoso. Infelizmente, a velhice fragiliza muito a gente. Devemos estar preparados para enfrentar - da melhor maneira possível - o inevitável "entardecer da vida"!