Por: CHICO VELLOZO
24/03/2024
07:58:49
FUTEBOL É PRA MULHER, SIM
O futebol é um esporte muito interessante e cheio de curiosidades. A modalidade nasceu de uma dissidência na liga inglesa de rugby. Os entusiastas da prática do jogo de bola com predominante uso dos pés partiram para a criação do football e o novo esporte encontrou nas universidades um ambiente propício ao seu desenvolvimento e a adesão dos estudantes contribuiu para a difusão da prática futebolística na Inglaterra. A opção pelo número de 11 jogadores por equipe, foi em função da inclusão do bedel no jogo, já que as turmas eram compostas por 10 alunos e, para não deixá-lo de fora sentindo frio, incluíam os monitores das turmas nas partidas.
Outra curiosidade, é a de que o futebol era um esporte praticado pela elite. No Brasil, importado da Inglaterra por Charles Miller, a modalidade não era nada popular. Entretanto, aos poucos, por necessidade de completar as equipes, foram incluídos jogadores das classes menos abastadas. A participação de afrodescendentes, por exemplo, não era aceita e um famoso episódio é uma prova cabal dessa distinção. Um jogador do Fluminense Football Club jogava com o corpo cheio de "pó de arroz" para disfarçar sua cor e, um dia, em função do suor que escorria pelo seu corpo, a fraude foi descoberta.
A grande aceitação do futebol no Brasil, durante muito tempo foi instrumento de manipulação, servindo para diminuir o ímpeto de
trabalhadores fabris insatisfeitos. Envolvidos com disputas futebolísticas, os funcionários acabavam não se envolvendo em movimentos grevistas. O estímulo a prática futebolística desviava a atenção dos problemas sociais e esse recurso foi muito utilizado pela classe dominante até como política de governo com a estratégia do “pão e circo” para o povo.
O interesse pelo futebol é muito grande. Um bom exemplo disso foi em um jogo do Santos F.C. quando, para possibilitar o acesso da equipe a região em conflito, a Guerra do Biafra entrou em um cessar fogo. O fato foi atribuído ao prestígio de Pelé, nessa época.
A indústria de futebol gera uma movimentação financeira astronômica e o mercado encontra-se em plena expansão. Os grandes astros da modalidade recebem remunerações que dificilmente seriam obtidas em outra profissão, mas o futebol feminino – de maneira geral - esteve, durante muito tempo, muito distante dessa realidade.
No Brasil, só tardiamente a mulher foi incluída no processo de desenvolvimento da modalidade. Graças a uma decisão de gabinete que originou, em 1941, o decreto 3.199 - “que estabelece as bases de organização dos desportos em todo o país” - assinado pelo presidente Getúlio Vargas, o país ficou privado da prática do futebol feminino até 1979, quando foi revogado o artigo 54: “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o conselho nacional de desportos baixar as
necessárias instruções às entidades desportivas do país.”.
Nada irá reparar o erro histórico de uma decisão tão infeliz! Entretanto, atualmente o futebol feminino vem conquistando cada vez mais admiradores. Através do dinamismo das disputas e da intensa evolução técnica/tática das equipes, o futebol feminino simplesmente vem encantando e ganhando maior popularidade.
Devemos nutrir eterna gratidão às verdadeiras heroínas que, mesmo enfrentando enormes dificuldade, dedicaram suas vidas ao desenvolvimento da modalidade. Elas foram movidas unicamente pela paixão e, dedicando-se de corpo e alma ao futebol, ela deixaram um significativo legado.